Cruzeiro solar pelo Douro com degustação de vinhos saindo de Pinhão

Ao entrar no passadiço, a primeira coisa que se nota é o som: apenas água e pássaros; os painéis fotovoltaicos alimentam o motor elétrico, pelo que o barco avança sem vibrações nem cheiro a combustível. A bombordo, colinas cobertas de trepadeiras inclinam-se para a água; a estibordo, antigas videiras brancas agarram-se à encosta. O guia indica como os socalcos de ardósia, construídos à mão há séculos, regulam o calor e dão carácter à casta Touriga Nacional.

No primeiro passeio, os funcionários servem um copo de Moscatel Galego - aromático, com notas de flor de laranjeira - acompanhado de amêndoas torradas. O deck aberto convida a fotografias panorâmicas sem grades altas ou motores a estragar o enquadramento. Letras na rocha indicam os limites das quintas históricas, enquanto garças cinzentas sobrevoam a vinha.

O barco vira em direção ao desfiladeiro da Valeira, onde as paredes de granito se estreitam e a quietude multiplica o eco dos chocalhos distantes. Chega o segundo vinho: um Tinto Reserva envelhecido em carvalho, intenso e picante; a sua cor rubi contrasta com o verde das vinhas refletido no rio. Durante a prova, o guia conta a lenda da Baronesa de Forrester e dos barcos rabelos que outrora transportavam pipas do Porto para Vila Nova de Gaia.

Antes de regressar ao Pinhão, há tempo para se aproximar da proa envidraçada, onde os painéis solares se fundem com a água num jogo de reflexos ideal para encerrar a sessão fotográfica. A atracagem é tão silenciosa como a partida: sai-se do barco com a sensação de ter vivido o Douro como o viticultor o vê ao amanhecer, sem ruído nem pressa, com o cheiro da fermentação a pairar no ar.